Confissões de um crime
-...E então, vai contar o que você fez pra estar aqui?
-Putz... é complicado, sabe?
-Se eu contar, você conta?
-Fechado.
-Tá legal. Um garoto falou que eu era burra e eu bati nele.
-Ah, que merda.
-Só que eu não sabia que uma cadeira podia fazer alguém sangrar...
-Eita porra
-É... não me arrependo.
-Justo
-E você, de qual crime o réu é acusado?
-Digamos, vossa excelência, que a minha situação foi um pouco... escatológica
-Discorra?
-Prefiro não.
-Justo também.
-Poderia saber a quem devo a honra dessa companhia?
-Nina, e você?
-Antonio, mas me chamam de Nico.
-Pera... - começou Nina - Eu acho que já te vi no intervalo...
-É provável né, eu estudo aqui - respondia Nico enquanto dava de ombros.
-Não mané, você entendeu. Você por acaso lia O S-
-Sim.
-Mas você nem esp-
-Não.
-Então como voc-
-Sabendo
-DEIXA EU TERMINAR UMA FRASE?
Nico ficou quieto, segurando um riso debochado mas sincero, até finalmente dizer: ok, foi mal.
-Acha que você roda?
-Caramba... eu tinha total esquecido dessa...
-Espero que você tenha um bom advogado. Espero que o menino não tenha quebrado o nariz também, se não eu é que estou fudi-
Os dois são interrompidos pelo estrondo da porta da direção que traz consigo os estalados do salto da diretora. Longos dois segundos de silêncio permanecem no ar antes que ela anuncie: Senhor Antonio, você poderia entrar e me explicar porque o professor de química "está quase abortando o intestino pelo ânus"?
Nico sorriu. Em sua mente: missão cumprida. Nina cobria a boca com as mãos e escondia um sorriso tão largo que lhe doeu as bochechas depois.
-Bom... acho melhor eu-
-Com certeza.
-Se eu sobreviver, você topa-
-Absolutamente.
Nico acenou e caminhou em direção ao seu julgamento. Nina abraçou os joelhos e, depois de suspirar todo ar do mundo, só conseguiu pronunciar duas palavras antes de rir: que manézão.
Nota pós-escrita: apesar de trabalhar na escola Prime, como dito anteriormente nesse blog, nem eu nem nenhum dos membros do corpo discente do colégio temos relação com essa história. Isso não é um relato tampouco uma confissão.
Nota pós-pós-escrita: Pensando bem, seria irado ter isso no currículo. Mas mantenho o que foi dito na primeira nota como verdade
Very interessante.
ResponderExcluirÉ muito produtivo esse blogger
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